terça-feira, 27 de março de 2007

“Tudo é aprender”

Em Pirituba, a linguagem do teatro e muita conversa ampliam a percepção sobre o lixo.

Durante dinâmica teatral, agentes dão bronca em quem joga lixo pela janela do ônibus


Quarta-feira, 14 de março. A turma de 34 agentes comunitários de saúde da Vila de Taipas, Vila Elísio Teixeira Leite e Parque Maria Domitila encontra-se no Hospital Psiquiátrico Pinel, ao lado do Terminal Pirituba, para uma discussão sobre lixo. É a segunda semana de formação no Projeto Ambientes Verdes e Saudáveis.

“Para nós, agentes, tudo é aprender”, diz Jucinéia Conceição da Silva, que vai completar seis anos de serviço na comunidade em julho. Ela trabalha na UBS Elísio Teixeira Leite, no Jaraguá, mas raramente fica na sede da unidade. Afinal, o trabalho do agente comunitário de saúde é bater de porta em porta para visitar as famílias da região.

O educador responsável pelo grupo é o psicólogo Cristiano Vianna, 27 anos, formado em 2005 pela PUC. Contratado pela Unifesp, uma das instituições parceiras na formação dos educadores, Cristiano prefere dinâmicas que integrem o grupo a aulas mais expositivas.

“É um desafio constante criar um ambiente para encontros mais verdadeiros: ter a atenção do grupo e o grupo ter atenção a si mesmo”, diz Cristiano. “Então organizo dinâmicas para que se conheçam, aprendam os nomes, tenham um pouco mais de respeito às singularidades.” Para o educador, é importante criar essa base para que possam surgir outras ações. Nesse processo, brincadeiras, almoços comunitários e linguagens artísticas são bem-vindas.

Nesta quarta-feira, o grupo usou o teatro para apresentar diferentes problemas identificados na discussão. Divididos em grupos, os agentes preparam cenas variadas falando do descaso com o lixo, da poluição sonora ou ainda do desafio da reciclagem. Tiveram espaço garantido as pequenas situações cotidianas, como o lixo que se joga pela janela do ônibus, até a reflexão sobre o “lixo humano”, com a história real de uma família que proibiu o filho portador de doença mental de entrar na própria casa. Juntos, puderam ampliar a percepção de como o tema está presente na vida de todos.

Dona Helena

“Na verdade, a gente queria uma solução para todos os problemas”, diz Helena Cardoso de Matos de Santos, 56 anos, agente comunitária de saúde desde 2001. Integrante da associação de bairro do Parque de Taipas, no Jaraguá, e do Conselho Gestor da região, dona Helena tem o olho treinado para enxergar os problemas da sua área. “Conheço todo o histórico de lá: como começou, as ocupações que ocorreram esses anos todos, a necessidade das pessoas”, diz.
Helena (à esq.) sonha mobilizar
mais famílias em sua região

Dona Helena se mudou para Taipas em 1959. “As casas eram contadas”, recorda. “As ocupações foram tão grandes que hoje o número de moradores em área de risco é enorme. Vieram pessoas tiradas de algumas favelas, que foram sendo jogadas por lá. Um abandono que essas pessoas sofrem na pele.”

A ocupação desordenada causou graves conseqüências para o meio ambiente. A vegetação foi desmatada e os córregos locais foram totalmente descaracterizados. “Acabou com a mata da serra, e a água do córrego que quando eu era criança eu tomava banho, hoje eu não posso pôr o dedo de tanta poluição”, lamenta Dona Helena. “Quando chove, a gente tem medo de a terra rolar lá de cima e derrubar todos aqueles barracos.”

Apesar das dificuldades e equívocos de muitos governos, Dona Helena persiste na tarefa de ajudar a melhorar o lugar onde vive. “Entre cem famílias, a gente sempre encontra dez que querem colaborar, que querem ter uma vida melhor. O que a gente gostaria é que pelo menos 30 pudesse colaborar, participando. Quem sabe eu e meus companheiros não conseguimos chegar a 20%?” pergunta, com otimismo no olhar.

Reportagem e fotos: Silvana Salles



Como acontece a formação

O PAVS está organizado em seis módulos temáticos, que serão trabalhados de março a julho deste ano. Lixo foi o primeiro deles. Cada módulo segue uma mesma estratégia de formação: toda segunda-feira, os 82 educadores se reúnem na UMAPAZ (Universidade Aberta do Meio Ambiente e da Cultura da Paz, que é ligada à Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente e funciona dentro do Parque Ibirapuera). Durante todo dia, participam de atividades de formação sobre o tema, bem como de planejamento pedagógico das atividades a realizar junto aos agentes.

De terça à quinta-feira, eles se dispersam pela cidade de São Paulo, repassando os conteúdos para os agentes de saúde comunitários e os agentes de proteção social. A cada dia, cada educador trabalha com uma turma média de 30 participantes, somando 5.700 agentes formados simultaneamente. Para completar a semana, às sextas-feiras, os educadores voltam a se concentrar na UMAPAZ para atividades de formação temática, bem como de avaliação e troca de experiências.

2 comentários:

Cristiano kiko disse...

Acabei de ler e ver as fotos feitas pela Silvana lá do nosso grupo no Pinel- Pirituba, e tenho que dizer que gostei bastante do que vi! Parabêns para a equipe de comunicação,que soube captar e comunicar com clareza parte deste rico processo que estamos vivenciando junto às ACS!
E digo isto em nome de toda a equipe de educadores do PAVS!

Abraços e beijos!
CRistiano Kiko Vianna

vicky disse...

Oi Cristiano nao sei se vc se lembra de mim, sou Monica, a peruana q estudou com vc na puc...
bom queria me comunicar com vc e com algumas pessoas da turma pois gostei muito de todos e muito de alguns com quem me di bem. Se quiser pode me escrever mue e-mail é kulinha@hotmail.com gostaria muito saber de vc.
beijos
monica