quinta-feira, 3 de maio de 2007

Fortalecer o outro

Concentração: Ausonia entra em cena para estimular reflexões
A cada segunda-feira, os educadores do projeto enfrentam um assunto diferente. Na terça, já é hora de levar a discussão para os agentes. Quarta e quinta, o trabalho se repete com novas turmas. Na sexta, os educadores voltam a se reunir: novo conteúdo e avaliação das atividades. Nessa intensa jornada, as palavras da pedagoga Ausonia Favorido Donato têm sido vitais.

Doutora em Saúde Coletiva e mestre em Saúde Pública, Ausonia atua na área educativa desde a década de 1970. Na época, foi orientadora educacional do Grupo Escolar e Ginásio Experimental Dr. Edmundo de Carvalho, conhecido como Escola Experimental da Lapa. Exonerada pela repressão política, migrou para a escola particular, onde está até hoje. Também trabalha no Instituto de Saúde, do governo estadual, e na Escola Técnica do SUS de São Paulo.

Com ampla experiência em relacionar educação e saúde, Ausonia chega pela primeira vez à área ambiental com o PAVS.


Como é o seu trabalho no projeto?
Nós criamos algumas situações em que possamos orientar tanto os educadores quanto os especialistas, no sentido de ir aperfeiçoando o processo de ensino pedagógico. Quando o especialista está ministrando sua aula aos educadores, por exemplo, fico junto e uso algumas brechas para que os educadores possam refletir na dimensão educativa mesmo. Porque os especialistas são especialistas, não são professores. Muito embora alguns tenham perfil de professor. Então, claro, o especialista tem domínio muito grande do conteúdo. Mas talvez não tenha tanto o domínio da prática pedagógica.

O que você destaca como diferencial nesse projeto?
Fomos privilegiados pelo grupo de educadores selecionado. São pessoas, na sua grande maioria, muito sensíveis, muito preocupadas com a relação humana. E às vezes eu tenho que chamar para o outro lado: olha, tem conteúdo. Dinâmicas, jogos, atividades lúdicas são importantes, mas têm que estar a serviço de um conteúdo.

No processo de aprendizagem que a gente vem discutindo, temos três grandes dimensões: uma dimensão humana, que também é o relacionamento interpessoal. Tem uma dimensão técnica. Ou seja, como o ato pedagógico é intencional, há que se planejá-lo. A gente planeja não por burocracia, e sim porque se é uma coisa que tem intenção, você tem que planejar para ver se está atingindo essa intenção. E há uma outra dimensão, que é a sociocultural. Saber quem são nossos alunos, a que classe social pertencem, de quais valores, conhecimentos e motivações são portadores, quais as suas histórias de vida. O professor tem que saber quem são os alunos. Eu acho que essa trajetória é a mais importante, saber que repertório tem esses alunos.

Como fazer a ponte entre saúde e meio-ambiente?
A saúde hoje se baseia numa concepção muito abrangente. Se pegarmos como referência a nossa Constituição, a saúde é determinada por fatores sócio-ambientais. Isto tem um lado, tem o senso comum. O senso comum diz “ó, se eu tiver um lixo aqui, ele vai prejudicar minha saúde”. Nós, da saúde, também falamos isso. A Constituição brasileira diz isso. E tem pessoas estudando muito como se dá essa articulação. O estudo referencial, teórico está sendo elaborado.

Na verdade, o projeto está em plena construção?
Claro.

O trabalho que está sendo feito busca uma mudança de comportamento das pessoas?
Acho que é isso mesmo. Só que a gente tem que tomar muito cuidado quando fala de comportamento. Uma linha clássica da educação, chamada comportamentalismo ou behaviourismo, entende o outro como absolutamente passivo. Mas, entre o estímulo e a resposta, há o indivíduo.

A gente sempre diz que o importante é que o conteúdo não seja uma coisa a mais, mas que amplie o olhar, já que o agente tem que trabalhar o concreto, o real. E claro, que os agentes sejam instrumentalizados para agir como sujeitos, porque eles ficam muito insatisfeitos só com o conhecimento. Às vezes, eu sei tudo sobre lixo, mas do que eu me aproprio no meu dia-a-dia para realizar alguma transformação? Essa é a questão, e ela permeia nosso trabalho o tempo inteiro.

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